quarta-feira, 15 de julho de 2009

Anjos Desconhecidos


Anjos Desconhecidos

Há guardiães espirituais que te apóiam a existência no plano físico e há tutores da alma que te protegem a vida mesmo na Terra.

Frequentemente, centralizas a atenção nos poderosos do dia, sem ver os companheiros anônimos que te ajudam na garantia do pão. Admiras os artistas renomados que dominam nos cartazes da imprensa e esqueces facilmente os braços humildes que te auxiliam a plasmar, no santuário da própria alma, as obras-primas da esperança e da paciência. Aplaudes os heróis e tribunos que se agigantam nas praças; todavia, não te recordas daqueles que te sustentaram a infância, de modo a desfrutares as oportunidades que hoje te felicitam. Ouves, em êxtase, a biografia de vultos famosos e quase nunca te dispões a conhecer a grandeza silenciosa de muitos daqueles que te rodeiam, na intimidade doméstica, invariavelmente dispostos a te estenderem generosidade e carinho.

Homenageia, sim, os que te acenam dos pedestais que conquistaram merecidamente, à custa de inteligência e trabalho; contudo, reverencia também aqueles que talvez nada te falem e que muito fizeram e ainda fazem por ti, muitas vezes ao preço de sacrifícios pungentes.

São eles pais e mães que tem guardaram o berço, professores que te clarearam o entendimento, amigos que te guiaram à fé e irmãos que te ensinaram a confiar e servir... Vários deles jazem agora, na retaguarda, acabrunhados e encanecidos, experimentando agoniada carência de afeto ou sentindo o frio do entardecer; alguns prosseguem obscuros e devotados, no amparo às gerações que retomam a lide terrestre, enquanto outros muitos embora enrugados e padecentes, quais cireneus do caminho, carregam as cruzes dos semelhantes.

Pensa nesses anjos desconhecidos que se ocultam na armadura da carne, e, de quando em quando, unge-lhes o coração de reconhecimento e alegria. Para isso, não desejam transfigurar-se em fardos nos teus ombros. Quase sempre, esperam de ti, simplesmente, leve migalha das sobras que atiras pela janela ou uma frase de estímulo, uma prece ou uma flor.

Emmanuel/Francisco Cândido Xavier

Texto extraído do livro “Justiça Divina”, 4ª. Edição, publicado pela FEB – Federação Espírita Brasileira.

sábado, 11 de julho de 2009

"O Espírito sopra onde Quer...". 3ª. Parte

“O Espírito sopra onde quer...”.

3ª Parte

“Buscai, e achareis...” (Lc, 11:9)

Nos estudos evangélicos, como em qualquer área do conhecimento humano ou divino, não abdicaremos dos raciocínios lógicos e da “visão interior”, intuitiva, de que nos fala Emmanuel, pois a postura mental descontraída nos facilita a sintonia com o pensamento puro contido sob o invólucro da letra.

Estudar para assimilar e compreender, eis a estrada indicada pelo Espírito da Verdade, quando disse aos espíritas: “amai-vos” e ”instruí-vos”. A ignorância deliberada, e teimosamente mantida, é o pior caminho.

O nosso confrade Hermínio C. Miranda é autor de trabalho publicado em “Reformador”, do qual extraímos importante parágrafo, reproduzido no início deste artigo. Tentaremos aplicar, em seguida, neste estudo, as suas indicações, convictos, como ele, da relevância “do evangelho de Jesus e da obra monolítica de Kardec”.

Não temos a pretensão de convencer ninguém, mas como pensamos que os espíritas familiarizados com a “Revelação da Revelação” são genuínos admiradores da Codificação Kardequiana e seus maiores e mais antigos divulgadores, cremos que a solução oportuna e adequada para dirimir dúvidas suscitadas pela distorção interpretativa das palavras de Allan Kardec é buscar no Pentateuco do Espiritismo a voz autorizada do Espírito da Verdade.

Nos tempos do Cristianismo pós-apostólico surgiram escritos valiosos que a posteridade tachou impiedosamente de “apócrifos”, e com a publicação dos escritos coordenados por Roustaing foram usados preferencialmente os termos “mistificação” e “contradição”.

De nossa parte, consideramos mais adequado denomina-los “elucidação”, “ampliação”, “complementação”, porquanto pretendemos ter aprendido, no espiritismo, que as revelações são progressivas, além de sucessivas, e, ainda, que podem ocorrer, como ocorrem, contemporaneamente ou não, paralelamente em diferentes níveis, com gradatividades de interligação possível, próximas ou remotas, segundo escalas evolutivas preestabelecidas na dosagem do conhecimento que irá beneficiar as criaturas, no tempo.

Mas, vejamos em “O Livro dos Médiuns”, cap. XXVII, “Das Contradições e Mistificações”, a questão 301. Ela contém 10 perguntas, com as respectivas respostas. Examinaremos as de n.º2 a 5, começando pela 3.ª, que analisaremos em três etapas:

“Cumpre nos façamos compreensíveis. Se alguém tem uma convicção bem firmada sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessário é lhe tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Por isso é que muitas vezes nos servimos de seus termos e aparentamos abundar nas suas idéias: é para que não fique de súbito ofuscado e não deixe de se instruir conosco.”

Foi assim que agiram os orientadores e instrutores da Codificação: alguns livros (“O Livro dos Espíritos”, “O que é o Espiritismo” e “O Livro dos Médiuns”) foram editados, mas não com textos definitivos, antes do lançamento de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, então incompleto e com outro título. Enquanto a Igreja romana observava os acontecimentos e analisava os livros iniciais, a sabedoria do Invisível se alicerçava na opinião pública e dava à publicidade, sete anos depois, o Evangelho à luz do Consolador. Com relativa tranqüilidade.

Pela mesma razão, e de igual maneira, o Espírito Emmanuel, com sua iluminada e operosa equipe, mediunicamente, através de Francisco Cândido Xavier, e em alguns casos também de Waldo Vieira, e em outros com a conjugação de ambos os médiuns, nos tem transmitido inúmeras obras que elucidam, ampliam e complementam o saber da Codificação de Allan Kardec, evidenciando no decurso de quase meio século, nítida gradatividade na linha dos ensinamentos, a ponto de tornar possível a observação do crescendo evolutivo nos seus ditados.

Retornemos a “O Livro dos Médiuns”, o segundo parágrafo da resposta à 3ª pergunta, questão 301, diz “Aliás, não é de bom aviso atacar bruscamente os preconceitos. Esse o melhor meio de não ser ouvido. Por essa razão é que os Espíritos muitas vezes falam no sentido da opinião dos que os ouvem: é para trazer aos poucos à verdade. Apropriam sua linguagem às pessoas, como tu mesmo o farás, se fores um orador mais ou menos hábil. Daí o não falarem a um chinês, ou a um maometano, como falarão a um francês, ou a um cristão. É que têm a certeza de que seriam repelidos.”

Quem conhece a “Revelação da Revelação” entende perfeitamente o roteiro que tem norteado os escritos mediúnicos obtidos em Pedro Leopoldo e Uberaba, vinculado ao espírito das palavras acima. Emmanuel, em 1936, prefaciando o livro de Antônio Lima, “Vida de Jesus” (Ed. FEB), sanciona o ensino sobre o corpo fluídico, considera ridículo proibir-se a elucidação e manda evitar a “azedia da polêmica”. Dois anos após, o espírito Humberto de Campos, no “Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, confirma a posição de Jean-Baptiste Roustaing como encarregado da “organização do trabalho da fé”, na equipe de auxiliares da codificação. Daí em diante, sem cogitação alguma de voltar especificamente ao mesmo assunto, a equipe de Emmanuel laborou incansavelmente no desdobramento das lições da Codificação Kardequiana, penetrando-lhe a essência em muitos pontos. André Luiz, o médico do espírito, passou a revelar-nos a “erraticidade”, mostrar-nos, ao vivo, o funcionamento da lei de ação e reação (a justiça divina), os escaninhos da mente, os conflitos da consciência, o planejamento dos processos reencarnatórios, os mecanismos da mediunidade e toda uma realidade assombrosa da vida de além túmulo, entrando mais tarde na apreciação de questões da evolução humana (“Evolução em dois Mundos”, edição FEB), quando analisa aspectos da linha estrutural evolutiva registrada em Roustaing, dando-lhe ora aqui, ora ali, valiosas elucidações. Os que estudam e confrontam, sabem.

“Não se deve tomar como contradição (é o 3º parágrafo da resposta a 3. º pergunta da questão 301) o que muitas vezes não é senão parte da elaboração da verdade. Todos os espíritos têm a sua tarefa designada por Deus. Desempenham-na dentro das condições que julgam convenientes ao bem dos que lhes recebem as comunicações.”

Enquanto Allan Kardec coordenava um trabalho sobre o Evangelho, num nível, Roustaing coordenava outro, noutro nível. Houve ai simultaneidade de revelações, contemporâneos que foram o Codificador e aquele auxiliar que veio coadjuvá-lo. É a gradatividade, em diferentes níveis, como sempre aconteceu no mundo. João Batista, com a missão de “endireitar as veredas do Senhor”, foi-lhe o Precursor, encerrando o longo período da Lei e dos Profetas. O Cristo transmitiu a mensagem do evangelho e anunciou para o futuro o Consolador. E João Batista e Jesus foram contemporâneos, cada um trabalhando no seu próprio nível. João anunciou, revelou o Messias, e o Messias confirmou que João “era Elias”, o “maior dos nascidos de mulher”. No fenômeno do Pentecostes, graças a manifestações de efeitos físicos e intelectuais, pela mediunidade dos apóstolos, os israelitas de variada procedência, ali reunidos, obtiveram, cada um deles na própria língua ou dialeto, simultaneamente, os ensinamentos do Evangelho.

A 5ª pergunta (questão 301): “Pessoas há que não têm tempo, nem aptidão necessária para um estudo sério e aprofundado e que aceitam sem exame o que se lhes ensina. Não haverá para elas inconveniente em esposar erros? — Que pratiquem o bem (é a resposta) e não façam o mal é o essencial. Para isso, não há duas doutrinas. O bem é sempre o bem, quer feito em nome de Allah, quer em nome de Jeová, visto que um só DEUS há para o universo.”.

Neste ponto, retornamos à Revue Spirite”, de junho de 1866. Allan Kardec, apreciando a “Revelação da Revelação”, disse que “as partes correspondentes às que tratamos no Evangelho segundo o Espiritismo o são em sentido análogo. Aliás, como nos restringimos as máximas morais que, salvo raras exceções, são claras, estas não poderiam ser interpretadas de maneiras diferentes; assim, jamais foram motivo de controvérsias religiosas. Por esta razão é que por ai começamos, a fim de ser aceito sem contestação, esperando quanto ao resto que a opinião geral estivesse familiarizada com a idéia espírita”.

E o Codificador usando a técnica espírita de comunicação e atendendo às necessidades gerais do povo, em primeiro lugar, a todos enviando a mensagem incontroversa do Cristo, o ensino moral orientador da prática do bem, o essencial. Os que não têm tempo nem aptidão ao estudo sistemático foram e continuam sendo prioritariamente atendidos através dessa obra notabilíssima de simplicidade e consolação, que na FEB já está com a 58.ª edição em preparo, a caminho do 900.º milheiro.

“Os espíritos realmente superiores (é a resposta a 2.ª pergunta da questão 301) jamais se contradizem e a linguagem de que usam é sempre a mesma, com as mesmas pessoas (grifos de Kardec). Pode, entretanto, diferir, de acordo com as pessoas e os lugares. Cumpre, porém, se atenda a que a contradição, às vezes, é apenas aparente; está mais nas palavras que nas idéias; porquanto, quem reflita verificará que a idéia fundamental é a mesma. Acresce que o mesmo espírito pode responder diversamente sobre a mesma questão, segundo o grau de adiantamento dos que o evocam, pois nem sempre convém que todos recebam a mesma resposta, por não estarem igualmente adiantados. É exatamente como se uma criança e um sábio te fizessem a mesma pergunta. De certo responderíeis a uma e a outro de modo que te compreendessem e ficassem satisfeitos. As respostas, nesse caso embora diferentes, seriam fundamentalmente idênticas.”

Falando para outras pessoas, os espíritos que ditaram a “Revelação da Revelação” deram mais amplas e completas explicações aos ensinos de Jesus e não se limitaram às máximas morais: abordaram os evangelhos por inteiro, sem contradição alguma com as verdades expostas sabiamente em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Tudo obviamente sob o comando do Espírito da Verdade.

Simples aprendizes do Evangelho, estamos longe de imaginar a profundeza e o alcance dos desígnios do Senhor, mas estudando vamos sempre aprendendo com os instrutores do invisível. A corporeidade de Jesus para só falarmos no ponto que estranha aversão tem causado a alguns companheiros, (*) ponto que é fundamental à compreensão dos evangelhos em sua integralidade, está implícita na resposta dada pelo espírito de São Luiz a uma das últimas perguntas de “O livro dos Espíritos”, a de nº. 1010: “ O dogma da ressurreição da carne será a consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos? — Como quereríeis que fosse de outro modo? Conforme sucede com tantas outras, estas palavras só parecem despropositadas, no entender de algumas pessoas, porque as tomam ao pé da letra. Levam, por isso, à incredulidade. Dai-lhes uma interpretação lógica e os que chamais livres pensadores as admitirão sem dificuldades, precisamente pela razão de que refletem. Porque, não vos enganeis, esses livres pensadores o que mais pedem e desejam é crer.” (a resposta ainda prossegue.).

A reabilitação espiritual se processa pela via reencarnatória. A libertação plena do Espírito, a superação dos processos compulsórios da reencarnação mediante a total quitação das dívidas contraídas, quitação que se opera através de provas e expiações, é a ressurreição. A ressurreição ocorre continuamente, pois a libertação é fenômeno individual: cada espírito terá a sua.

Mas o Cristo foi crucificado, fisicamente morto e sepultado, nenhum processo reencarnatório se verificando em relação a ele. No entanto, três dias após, como prometera, estava tão vivo quanto antes do calvário, com o mesmo corpo tangível, e com as cicatrizes dos ferimentos que lhe fizeram, reunindo-se com os apóstolos, saudando-os e ensinando-os, tendo surgido em recinto fechado. “Alimentou-se”, repetindo o que publicamente fizera em diversas oportunidades, inclusive do banquete na casa de Zaqueu. Antes ou depois do calvário, sempre o mesmo corpo físico, semelhante aos corpos humanos sem ser a eles idêntico. “Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco, era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos.” (Lc, 24:44.). O Espírito São Luiz não incorreu em equivoco, respondendo à pergunta nº. 1010. Ele simplesmente revestiu o seu “pensamento puro” numa linguagem clara, mas de tal forma que, satisfazendo com precisão à indagação que lhe fora dirigida, e que visava apenas ao aspecto imediato, humano e temporal da vastíssima questão, a da ressurreição da carne/reencarnação, ao mesmo tempo satisfaria à saciedade os que buscassem, no futuro, o aspecto complementar, espiritual e eterno do grande enigma, o do retorno do espírito, após as voluntárias quedas por rebeldia, à imortalidade gloriosa, à definitiva ressurreição com a cessação dos ciclos reencarnatórios. “E já não haverá morte...” (apocalipse, 21:4.). Este último aspecto, sendo de maior imaterialidade, está contido na profundeza da resposta, está implícito, exigindo maior atenção e acuidade para sua extração intuitiva, mas também racional, por comparação das figuras e dos processos que as interligam ao fenômeno da ressurreição: a obrigatória exclusão da figura do Cristo desse processo, a que conduz implicitamente a explicidade textual da resposta de São Luiz, é a solução insofismável do problema. Como nos esclarece Hermínio C. Miranda, inspiradamente, chegaremos a absorver a mensagem, decodificando-a e reconvertendo-a “à forma original, como pensamento puro.”.

Para se discernir do erro a verdade (resposta a 4.ª pergunta da questão 301 de “O Livro dos Médiuns”), preciso se faz que as respostas sejam aprofundadas e meditadas longa e seriamente. É um estudo completo a fazer-se. Para isso, é necessário tempo, como para destruir todas as coisas. Estudai, comparai, aprofundai. Incessantemente vos dizemos que o conhecimento da verdade só a esse preço se obtém. Como quereríeis chegar à verdade, quando tudo interpretais segundo as vossas acanhadas idéias, que, no entanto, tomai por grandes idéias? Longe, porém, não está o dia em que o ensino dos espíritos será por toda parte uniforme, assim nas minúcias, como nos pontos principais. A missão deles é destruir o erro, mas isto não se pode efetuar senão gradativamente”.

(*) O artigo de Newton Boechat, “Biologia e Transformismo”, publicado no Reformador de maio de 1973, abordam interessantes pontos, sobre o assunto, da obra “Os Quatro Evangelhos” de Jean-Baptiste Roustaing, razão por que convém lido e relido pelos estudiosos.

Francisco Thiesen

Este Artigo foi extraído da revista “Reformador”, mensário religioso de espiritismo cristão – Nº. 06 – Ano 91 – Mês de Junho de 1973.