A Fluidogênese e os Antifluidicistas
Lógica e Razão... eis os dois parâmetros entre os quais deve caminhar a mente. Diríamos até que a lógica sobreleva a razão ao recordarmos que, segundo Pascal, “Razão tem razões que a própria razão desconhece”. Ancorado nesta premissa, imaginamos que todos quantos ingloriamente combatem a doutrina do corpo fluídico de Jesus (combatem, porquanto, não aceitam, seria tão somente questão de tempo), estão por aí, não é de hoje, simplesmente a dar soco em ponta de faca.
Se esses “soi disant”1 espíritas realmente o fossem, isto é, não somente lessem as obras básicas do espiritismo, mas também digerissem o que foi lido, com absoluta isenção de ânimo, não teriam como tripudiar diuturnamente sobre aquela doutrina, que, em absoluto, não inova coisa alguma, no contexto geral do espiritismo, senão nele projeta uma faixa de luz, que se para uns ofusca, para outros amplifica ao infinito a visão de pontos vitais da doutrina espírita e fatalmente estariam condenados a serem lançados no saco bem fundo da crença cega, senão destinados a alimentar o mais lamentável fanatismo!
Entretanto, a questão é tão simples! Não está lá em letras garrafais, no “O Livro dos Espíritos”, (...)”fluido universal é susceptível, pelas suas inumeráveis combinações com esta (matéria), e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima;” (pergunta: 27). O Corpo Fluídico estaria porventura, excluído dessa origem? Os mundos não são solidários entre si? Por que não admitir que o que é inabitual em um mundo, possa ser habitual em outro? Os meios de reprodução também não variam? Sem apelar para a reprodução assexuada, a partenogênese2, nem mesmo para a clonagem que aí está, e veio para ficar. Os espíritos reveladores não informaram a Kardec, possuírem eles, meios de reprodução, embora tais meios não sejam tais como nós, aqui na terra, conjecturamos? (LE, pergunta 200).
Vultos eminentes do espiritismo como: Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Guillon Ribeiro, Antônio Luiz Sayão, Ismael Gomes Braga, e quantos mais não abraçaram essa tese? O espírito Áureo, entre outros, nos ditou esse monumento de informações inéditas em “Universo e Vida”, correlacionadas todas elas, com a mesma tese. Diante de tal quadro, que lugar nos sobra para idéias cerebrinas, do tipo: “Corpo fluídico, para o Cristo, seria um privilégio, perigoso precedente!” ou “Se o corpo de Jesus fora fluídico, ele teria sido um farsante!” – e outras sandices. A esses irmãos bem que poderiam se aplicar as palavras de Paulo, em Roma, em sua própria casa, aos que o foram procurar: “De ouvido, ouvireis e não entendereis; vendo, vereis e não percebereis”.
Triste, não é verdade? Jesus, para estes, teria que ter corpo carnal, como nos outros, sem o quê, seu inenarrável sofrimento teria sido a mais grosseira farsa da história da humanidade! Para esse povo, triste é dizê-lo – as percepções, as sensações estão na carne, não no espírito. “Quando um espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento?”, indaga Kardec, (LE, pergunta 255); resposta: “Angústias morais que o torturam mais dolorosamente do que todos os sofrimentos físicos!”. Se a carne que sente, o que se dirá daquele trecho da resposta à pergunta 22 do Livro dos Espíritos, em que os espíritos reveladores disseram a Kardec: “A matéria existe em estados que ignorais”. Dar-se-á que os senhores antifluidicistas já sabem o que nem a Kardec foi revelado? A doutrina não nos ensina que o perispírito é haurido (em sua parte material) nos elementos do mundo em que o espírito vai encarnar? Por que carga d’água não poderia o Cristo adaptar o seu, ao nível do perispírito de um mundo mais elevado... No Evangelho Segundo o Espiritismo no Cap. IV item 24, Kardec faz a seguinte indagação: “Quais os limites da encarnação?” E o espírito de São Luis responde: (“...)” em certos mundos mais adiantados do que a Terra, já ele (corpo) é menos compacto, menos pesado e menos grosseiro e, por conseguinte, menos sujeito a vicissitudes. Em grau mais elevado, é diáfano e quase fluídico. Vai desmaterializando-se de grau em grau e acaba por se confundir com o perispírito. Conforme o mundo em que é levado a viver, o espírito reveste o invólucro apropriado à natureza desse mundo.”
Foi aos que assim não raciocinam que Manoel Quintão, no magnífico “O Cristo de Deus”, chamou em boa lógica, os “materialistas do espiritismo”. Por que cargas d”água? Não teria o Cristo poder bastante, para trazer para os seus domínios (a terra), um processo inabitual de “encarnação”, processo que nem original é – porquanto, como “eles” não ignoram (?), foi vivenciado pelo patriarca Melquisedeque? E a concepção, parto e nascimento virginal, que se não podem negar, sob pena de leso-evangelho? E, sendo o Cristo “O Filho Amado” – (Mat. 3:17), “o filho unigênito do Pai” – (Jo. 1:18), aquele de quem disse Deus: “Tu és meu filho; eu hoje te gerei” – (Sal. 2:7).
Fundador do nosso planeta, que ele trouxe das origens – (Jo 1:3), sendo tudo isso, por que não poderia revestir um corpo “ sui generis”3 – não para dar que fazer aos antifluidicistas, mas, adaptando sua altíssima envergadura evolutiva à única forma de “envoltório somático” compatível com seu tônus vibratório? Paulo, em 1 Co 15, entoa uma verdadeira sinfonia, com relação ao assunto em pauta, que, acredito piamente, nem toda a celeuma dos antifluidicistas conseguem desafinar: Versículo 38 “... Deus lhe dá corpo, como lhe aprouve dar” – (a figura, naturalmente, não é do grão de trigo ou de qualquer outra semente); versículo 39: “Nem toda carne á a mesma carne”; versículo 40: “ Há corpos celestiais e corpos terrestres; e sem dúvida, uma é a glória dos celestiais e outra a dos terrestres”; versículo 44: “Se há corpo animal, há também corpo espiritual”.
Por maneira que, quando vejo tanta obstinação e má-vontade da parte de irmão nossos, possivelmente, bem-intencionados; lembro-me logo aqueles maravilhosos versos de Catulo da Paixão Cearense, em que o grande poeta, observando a impassibilidade de um papagaio, imediatamente após a morte de uma cadela, de quem o poeta era muito amigo, exclamou: “Meu Deus! Por que não fizestes os homens irracionais!?
Joel Alves de Oliveira.
Artigo publicado no periódico “3 de Outubro”, ano 1, nº 8 de abril de 1999.
(1) Adj. inv. Chamado, intitulado, suposto, pretenso, que se diz. Fonte: Dicionário de Francês-Português – Editora Porto – Porto 1983.
(2) S.f.Biol. Desenvolvimento do óvulo não fecundado de que resulta um indivíduo como os outros.
Fonte: Dicionário Aurélio.
(3) Incomum
Fonte: Dicionário de Termos Latinos
Conan Editora Ltda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário