segunda-feira, 27 de abril de 2009

"O Espírito sopra onde quer..."


“O Espírito sopra onde quer...” (João, cap. 3 v.8).

1ª Parte

 

 

“Aquele que deseja transmitir uma idéia, terá que traduzi-la de alguma forma, segundo o processo que tiver à sua disposição. Isso porque não pensamos em palavras e sim em imagens ou impressões fugidias, que passam pelo nosso consciente como “flashes” velozes que precisamos agarrar às pressas para que não se percam. O primeiro trabalho é, pois converter pensamentos, idéias, sensações e impressões em um sistema de códigos, sinais ou imagens sensoriais que sejam comuns a uma grande quantidade de gente.”.

“Com isso chegamos a um terceiro componente do processo de comunicação, que é a interpretação por parte daquele que a recebe. È evidente, portanto, que a mensagem não é recebida na sua forma original, tal como foi concebida na mente daquele que a enviou, e sim já convertida num dos meios usuais empregados para torná-la comum, ou seja, para comunicá-la. Isso quer dizer que ela passou por um processo de codificação, ao ser transformada em sinais ou símbolos de idéias que surgem no plano do nosso entendimento como representações das próprias idéias. É que na fase atual da nossa evolução espiritual ainda não podemos transmitir o nosso pensamento na sua forma original, com a dispensa dos símbolos criados para comunicá-lo. Cabe, assim, àquele que recebe a mensagem, decodificá-la para convertê-la à sua forma original e ser então absorvida como pensamento puro.”

(Extraído do artigo “Técnica da Comunicação Espírita”, de Hermínio C. Miranda, “Reformador” de março de 1971, pp. 51 a 53. Os grifos do parágrafo final são do autor do presente trabalho).

 

 

Em espiritismo não há professores. Somos apenas estudiosos das verdades reveladas. Livremente, pesquisamos. Socorremo-nos das lições dos instrutores do mundo invisível que incessantemente ampliam, completam e elucidam a doutrina recebida do Espírito da Verdade e magistralmente codificada por Allan Kardec.

E, não sendo mais que aprendizes, não ensinamos, Limitamo-nos a estudar, e fazemô-lo incessantemente. E aquilo que aprendemos, ou pensamos estar aprendendo, procuramos transmitir, divulgar, para eventual aproveitamento por parte de outros estudiosos interessados. Com esse escopo, fazemos convergir para temas que pareçam pouco claros farto material de pesquisa, esparso em inúmeras obras que nem todos leram, ou que já esqueceram. “Se duas ou três pessoas se reunirem em meu nome, disse Jesus, eu entre elas estarei.”

Dessa confraternização, no estudo sério, o aproveitamento de cada um estará na razão direta do interesse que realmente tenha em instruir-se. E é por isso que, sem desprezar o gentio, buscamos antes — é pelo menos a nossa sincera intenção — “as ovelhas perdidas da casa de Israel”, como determinou o Divino Mestre. Ou seja: queremos estudar com os que, como nós, querem de fato aprender. “Na época de Jesus, e em conseqüência das idéias acanhadas e materiais então em curso, tudo se circunscrevia e localizava. A casa de Israel era um pequeno povo; os Gentios eram outros pequenos povos circunvizinhos. Hoje, as idéias se universalizam e espiritualizam. A luz nova não constitui privilégio de nenhuma nação; para ela não existem barreiras, tem o seu foco em toda a parte e todos os homens são irmãos. Mas, também, os Gentios já não são um povo, são apenas uma opinião com que se topa em toda parte e da qual a verdade triunfa pouca a pouco, como do Paganismo triunfou o Cristianismo. Já não são combatidos com armas de guerra, mas com a força da idéia.” (A Candeia Debaixo do Alqueire, cap. XXIV. “O Evangelho segundo o Espiritismo” de Allan Kardec, 57ª ed. FEB).

Aprendemos, com a Codificação Kardequiana, que tudo deve ser examinado, comparado meditado. E que a opção, entre o que parece certo e o que se nos afigura errado, é de cada um de nós. Portanto, o uso da liberdade de exame, no Espiritismo, é prerrogativa consciencial: além de ser um direito conquistado por longa evolução, é um dever imposto pelo grau de compreensão atingido pelo espírito.

Respeitando os doutores do mundo, nas respectivas áreas de sua indiscutível competência, mas deles divergindo quanto à presunção de capacitação infalível para, sob rótulos cientificistas, opinarem decisivamente sobre Espiritismo, entre outras coisas escreveu Allan Kardec: “... será preciso a posse de um diploma oficial para se ter bom senso? Dar-se-á que fora das cátedras acadêmicas só se encontrem tolos e imbecis?” (Introdução ao estudo da Doutrina Espírita, em “O Livro dos Espíritos”, 32. ª ed. FEB).

Todavia, disso não se depreenda que o Espiritismo possa ser compreendido ao ritmo de um “curso rápido”, em alguns dias ou em poucas semanas. Na mesma “Introdução”, em “O Livro dos Espíritos”, o insigne Codificador nos esclarece: “Anos são precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para se chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir-se a ciência do infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todos as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?”

Resumindo: parece fora de dúvida que, como espíritas, devemos estudar uns com os outros, reunindo ensinamentos esparsos para analisá-los livre e conscientemente, por direito e por dever, com bom senso, sem necessidade de certificados de presença ou de aproveitamento em quaisquer “aulas” ou “escolas” de inspiração escolástica ou de orientação mundana, escolhendo os próprios caminhos, informando-nos sobre quanto nos vem, por “acréscimo de misericórdia”, com o fim de nos instruir, dos Orientadores da Espiritualidade, e que tudo devemos “descodificar para reconverter à forma original e então absorver”, sem medo, sem preconceito, sem dogma, sempre, sabendo que o estudo da Doutrina Espírita pode ser iniciado, mas jamais concluído.

 

                                                                      Francisco Thiesen

 

(Extraído da revista Reformador, mensário religioso de espiritismo cristão — Ano 91 nº. 6, mês de junho de 1973, editado pela FEB – Federação Espírita Brasileira).

 

domingo, 19 de abril de 2009

Anunciação do anjo a Maria


Anunciação do anjo a Maria

 

 

“Eu te saúdo, ó cheia de graça; o Senhor está contigo; és bendita entre as mulheres” (Lucas, 1:28).

 

 

Essas foram às palavras de saudação do anjo Gabriel àquela que fora escolhida para simbolizar aos olhos do mundo, a missão de mãe de Jesus, o Cristo de Deus. Maria era uma jovem judia virgem e, segundo os costumes da época, entre os judeus, prometida a um homem de nome José e da descendência de Davi.

Maria, como todas as moças de sua idade, devia ser ignorante das coisas relacionadas com a fé ou a religião de seu povo, uma vez que às mulheres muito pouco era permitido saber, sendo obrigadas a seguir caprichosamente as vontades dos pais e sob os ditames da lei.

Assim, os fatos relacionados com a anunciação por uma entidade espiritual a Maria devem ter sido guardados em segredo até ao dia em que ela os revelou, em confiança, aos discípulos de Jesus, possivelmente depois do terrível sacrifício a que foi submetido o Mestre. Deve ela, no entanto, tê-los revelado a José, seu esposo, após o sonho em que foi avisado pelo espírito que não devia abandonar a esposa, uma vez que ela era pura e o que se gerava em seu ventre era do Espírito Santo.

Convinha e era necessário que Jesus fosse realmente reconhecido como nascido de alguém, pertencente a uma família conhecida de todos. Todos deviam de fato testemunhar-lhe o crescimento natural, embora ninguém se desse conta da origem ou procedência espiritual do menino.

Os fatos tinham que ser conservados assim, em segredo. E continuaram secretos até que a humanidade amadurecesse para um entendimento satisfatório de toda a verdade. Numa palavra, até que fosse alcançada, no tempo, a era do espírito, pela manifestação do Consolador prometido por ele, Jesus.

Com o advento do Espiritismo, tudo se esclareceria a par das revelações que se fizessem necessárias. Não obstante, e como sempre ocorreu existirem entre os homens espíritos sempre mais argutos, muitas opiniões surgiram e se fizeram ouvir em torno da natureza de Jesus ao longo da história do cristianismo.

Ao lado daqueles que aceitam cegamente as coisas que lhes são ditas, que não as discutem nem duvidam, simplesmente acolhem as informações mais esdrúxulas como verdadeiras, há, também, aqueles que refletem em profundidade, que analisam os fatos, obtendo ilações inteligentes e sérias.

Ainda hoje é assim. Tudo que se publica é prontamente aceito por aqueles, simplesmente pelo fato de estar escrito num jornal ou numa revista, quando há neles interesse ou tendência para isso.

Os escribas, por exemplo, que eram encarregados da interpretação dos textos sagrados, gozavam do poder de impingir mentiras ou falsidades nas mentes predispostas ou desprevenidas, incautas, como fazem os políticos em nossos dias.

Ao longo dos séculos, desde o ano 312, quando Constantino obteve a adesão política dos cristãos, ao tornar público um sonho de sua imaginação, os pais da Igreja de Roma, mais e mais assumiram, como novos ditadores da fé, o papel dos escribas e fariseus, impondo aos religiosos as coisas em que acreditavam como verdadeiras ou convenientes, utilizando para isso o nome do Senhor.

Foi desse modo que estabeleceram, através de concílios que se multiplicaram no perpassar dos séculos, os dogmas do inferno, da ressurreição da carne, da santíssima trindade, da divindade de Jesus, da ascensão de Maria e centenas de outros, culminando com a aprovação do direito de torturar e matar pelo fogo os que fossem considerados hereges...Mas, de todas as infâmias cometidas a que nos parece mais ignominiosa e solerte é a de fanatizar as mentes desprevenidas ou despreparadas!

Foi assim que pouco a pouco conseguiram afastar dos adeptos da religião, cauterizando-lhes as mentes, o espírito do Cristianismo do Cristo, para que melhor se lhes sedimentasse o espírito do cristianismo que mais conviesse aos interesses da poderosíssima organização romana da fé.

A anunciação do anjo a Maria, em si, é muito simples e apropriada ao entendimento de uma virgem inocente e pura, cuja explicação, também simples, só viria mais tarde, quando mais amadurecido racionalmente estivesse o inquilino desta pequena morada da Casa do Pai, que é a Terra. Atentemos para as palavras do mensageiro espiritual:

“Nada temas Maria; porquanto caíste em graça perante DEUS. É assim que conceberás em teu seio e que de ti nascerá um filho ao qual darás o nome de Jesus.Ele será grande e será chamado filho do altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó. Seu reino não terá fim” (Lucas, 1:30-33).

Maria apenas indagou segundo lhe parecera sensato: “Como sucederá isso, se não conheço varão? E o anjo aquietou-lhe a alma, explicando:

“O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, e por isto o santo que nascerá de ti será chamado Filho de Deus. E eis que a tua parenta Isabel concebeu na velhice um filho e está no sexto mês de gravidez, ela que é chamada estéril. É que nada é impossível a DEUS” (Lucas 1: 34-37).

Maria nada mais tinha a retrucar. Humildemente exclamou: “Aqui está à serva do Senhor, faça-se em mim conforme as tuas palavras.” E o assunto foi encerrado para só retornar o anjo, em sonho a José, diante da perplexidade dele ao perceber que a esposa estava grávida, e guardar no coração certo propósito de afastar-se dela, secretamente. Tudo muito simples. Facílimo: Maria estava convencida pela voz do anjo e os homens, mais tarde, utilizar-se-iam por sua vez da técnica simplória do milagre que tudo explica e justifica. Uma virgem dá à luz um filho sem a participação indispensável do elemento masculino. Era a vontade de Deus. A lei afinal de contas era dele. Podia, pois, derroga-la, quando e como o quisesse. Para isso ele era Deus. Deus, consoante os homens imaginam: um deus antropomorfo?

É assim que têm raciocinado os teólogos, humanizando Deus, isto é, tornando-o caprichoso, estúrdio, indeciso, irascível, estulto, irresponsável como o próprio homem, que só apresenta tão lamentáveis atributos por força de sua imperfeição.

É chegado, porém, o momento de tudo ser esclarecido através de instrumentos próprios e precisos de que o Pai dispõe sem ter que dar satisfações de suas decisões, mas utilizando-se da participação daqueles que para isso nasceram, e contando com a boa vontade dos que, amadurecidos e sensatos, já em condições de muito compreender das verdades eternas, integram, resolutos, mesmo na carne, as sublimes falanges do Consolador Prometido.

Deus se utilizou dos recursos da mediunidade, ainda que desconhecida dos homens da época, para tornar possível a presença na Terra, de seu Governador, um ser puríssimo, e cuja encarnação como homem comum denunciaria imperícia divina ou atentaria contra o seu atributo de plenipotência e onisciência. Ele não quis que o seu plenipotenciário divino fosse um mágico, um ilusionista, mas o ser espiritual que efetivamente é o detentor de todos os poderes de sua hierarquia, dado que somente assim cumpriria com pleno êxito a sua missão.

Convinha que assim ocorresse e ocorreu não nos competindo pedir contas a Deus de seus atos.

Era necessário que o Cristo viesse pessoalmente trazer à humanidade o Evangelho, o código de sabedoria perfeita e lei de paraíso sem que nada pudesse obstar o cumprimento de tão magno mister. Nenhum risco, nenhuma possibilidade de falha. Por isto a tarefa não podia ser confiada senão a ele próprio, o Cristo, mas em condições especialíssimas e infalibilíssimas.

Antes da anunciação do anjo Gabriel, houve duas outras anunciações proféticas que descrevem em minúcias os fatos que teriam de ocorrer: as previsões de Isaías e de Malaquias. Tudo fora previsto por eles e seriamente programado nos planos espirituais superiores. E como tal ocorreram.

A anunciação do anjo a Maria, o nascimento de Jesus tal como descrito pelos evangelistas e a necessidade de uma explicação racional dos fatos foram razões suficientes para acordarem da atonia algumas mentes amadurecidas do passado, entre docetas e apolinaristas. Mas o poder do fanatismo e o sentimento político que já então dominava no seio do Cristianismo fizeram abafar as vozes dessas mentes, anatematizando-as nos concílios de Alexandria, em 360; de Roma, em 374; e de Constantinopla, em 381.

Por isso veio a Revelação da Revelação (Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing), explicando, versículo a versículo, os quatro livros fundamentais do novo testamento. Aí tudo se esclarece à luz da razão. Todas as dúvidas são dirimidas nas mentes que estudam, trabalham e esforçam-se na busca da perfeição. Dela tomou conhecimento o Codificador, sugerindo fosse lida com proveito pelos espíritas. Mas deixando a teoria do corpo fluídico de Jesus ao cuidado dos espíritos.

 

                                                                         Inaldo Lacerda Lima

 

 

Texto extraído da revista “Reformador” mensário religioso de espiritismo cristão, ano 109, mês de maio de 1991 nº. 1946, editado pela FEB – Federação Espírita Brasileira.

domingo, 12 de abril de 2009

Palavras aos Enfermos

Palavras aos Enfermos

 

 

Toda enfermidade do corpo é processo educativo para a alma.

Receber, porém, a visitação benéfica entre manifestações de revolta é o mesmo que recusar as vantagens da lição, rasgando o livro que no-la transmite.

A dor física, pacientemente suportada, é golpe de buril divino realizando o aperfeiçoamento espiritual.

Tenho encontrado companheiros a irradiarem sublime luz do peito, como se guardassem lâmpadas acesas dentro do tórax. Em maior parte, são irmãos que aceitaram, com serenidade, as dores longas que a Providência lhes destinou, a benefício deles mesmos.

Em compensação, tenho sido defrontado por grande número de ex-tuberculosos e ex-leprosos, em lamentável posição de desequilíbrio, afundados muitos deles em charcos de treva, porque a moléstia lhes constituiu tão somente motivo à insubmissão.

O doente desesperado é sempre digno de piedade, porque não existe sofrimento sem finalidade de purificação e elevação.

A enfermidade ligeira é aviso.

A queda violenta das forças é advertência.

A doença prolongada é sempre renovação de caminho para o bem.

A moléstia incurável no corpo é reajustamento da alma eterna.

Todos os padecimentos da carne se convertem, com o tempo, em claridades interiores quando o enfermo sabe manter a paciência, aceitando o trabalho regenerativo por benção da infinita Bondade.

Quem sustenta a calma e a fé nos dias de aflição, encontrará a paz com brevidade e segurança, porque a dor, em todas as ocasiões, é a serva bendita de Deus que nos procura, em nome d’Ele, a fim de levar a efeito, dentro de nós, o serviço da perfeição que ainda não sabemos realizar.

 

                                                

                                                                                           Neio Lúcio

 

(Trechos da mensagem de Neio Lúcio, recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo-MG, na noite de 01 de março de 1950).

A direção do blog extraiu esta bela mensagem da Revista “Reformador”, mensário religioso de Espiritismo Cristão, editado pela FEB – Federação Espírita Brasileira do mês de fevereiro, ano de 1951.

domingo, 5 de abril de 2009

A maior aventura psíquica, em nível de ciência, de que se tem notícia.

A maior aventura psíquica, em nível da ciência, de que se tem notícia.

 

“A existência da alma, que era apresentada como um dogma de fé por todas as religiões e que a filosofia nos mostrava por palavras, é hoje, graças ao Espiritismo, uma verdade científica”. [...]

A prova científica da existência da alma e da sua comunicação conosco é o legado mais brilhante que o presente século [XIX] vai deixar ao vindouro. ”*

 

Assinalou-se, ontem dia 04 de abril, mais um aniversário da desencarnação do eminente sábio Sir William Crookes ocorrida em Londres, a 04 de abril de 1919, no número 7 do Kesington Park Gardens. Nascido a 17 de junho de 1832, em Londres, no Regent Street, foi o primeiro cientista inglês, de alto gabarito, que, com surpreendente desassombro, em face do intransigente preconceito da ortodoxia do establishment científico dominante na época, e, com severas precauções, investigou, por três anos, o notável fenômeno de materialização do espírito Katie King, como registra a literatura espírita, concluindo, ante a evidência dos fatos, com esta memorável profissão de fé raciocinada: — “O espiritismo está cientificamente demonstrado e seria covardia moral negar-lhe o meu testemunho”.

Para apresentação desse nome venerando, autêntico missionário da ciência (veja A Gênese, cap. I, item 6), lembremos o testemunho do insigne e insuspeito doutor José Lapponi, clínico, professor de Antropologia, escritor e protomédico de dois papas (Leão XIII e Pio X) que, em estudo médico-crítico, publicado sob o título de Hipnotismo e Espiritismo, 5ª edição FEB, p. 138-139, desfazendo as agressões com que pretendiam nodoar a reputação científica de Crookes, declara, do alto de sua cátedra, com corajosa imparcialidade: [...] físico respeitado em qualquer parte da terra; que, aos 20 anos de idade, já havia publicado importantes trabalhos sobre a luz polarizada; que, mais tarde, produziu importantes trabalhos sobre os espectros luminosos dos corpos celestes; que inventou o fotômetro de polarização e o microspectroscópio; que escreveu trabalhos de química bastante apreciados; que é autor de um tratado de análise química, ora tornado clássico; que fez importantes pesquisas em Astronomia; que contribuiu grandemente para os progressos da fotografia  celeste [...] que foi enviado pelo governo inglês a Oran, para estudar, com outros doutos, o eclipse solar; que é versado em Medicina, em Higiene pública e em Ciências Naturais[...] que descobriu um processo de amalgamação metálica por meio do sódio, hoje largamente aplicado [...] para extração de ouro; que descobriu um novo corpo metálico, o Tálio; que, finalmente fez conhecer o estado radiante da matéria, o qual permitiu a famosa descoberta dos raios Röentgen, tão útil para a fotografia a que se chamou fotografia do invisível.

Um homem de tão alto  intelecto e de tão vasto saber; homem que passou a vida a indagar, com a máxima severidade, os mais árduos segredos da Natureza, quis examinar os fenômenos espiritistas e submete-los à severa crítica das ciência experimentais. Nas suas pesquisas foi secundado por dois físicos de valor, William Huggins e Ed. W. Cox. Por meio de aparelhos de precisão e de registradores automáticos, ele examinou escrupulosamente, até nas mais insignificantes particularidades, os fenômenos produzidos sob seus olhos. Experimentou, repetidas vezes, em pleno dia, em aposentos escolhidos por ele e bem iluminados, ou pela luz solar, ou por luz elétrica, ou à luz fosfórica [...] Pois bem: estudados os fenômenos espiritistas, por entre tantas preocupações e com o maior cepticismo científico, teve ele, honestamente, de repetir quanto antes já dissera Alfredo Russel Wallace: “Adquiri a prova certa da realidade dos fenômenos espiritistas”.

Charles Richet, Prêmio Nobel de fisiologia em conferência pronunciada na Faculdade de Medicina de Paris, em 24 de junho de 1925, com sua inconteste e respeitável autoridade, perante severo auditório, classificando William Crookes, textualmente como “um dos maiores sábios do nosso tempo e de todos os tempos”, assim se referiu às suas célebres experiências e à sua obra científica : (**)

Para começar, as experiências de Crookes. Estas são de granito. [...] Se tiverdes alguma curiosidade e alguns vagares, eu vos aconselharia que lêsseis com cuidado a pormenorizada exposição das experiências de Crookes, e ficaríeis convencidos da realidade dos fatos, a menos que vos resigneis a encarar Crookes como um imbecil, o que seria mais imbecil ainda. (p.33).

E continua Richet:

Crookes viu, em plena luz, mesas e cadeiras se deslocarem, flores aparecerem e se moverem, um acordeão passar sobre sua cabeça e tocar, ruídos retumbantes se produzirem sem contato, e isto tudo em franca claridade, diante de sábios honestos e experimentados, em um laboratório de química.

Crookes viu Florence Cook [a médium] desdobrar-se em um fantasma, observou, com o auxílio de uma lâmpada de fósforo, em seu próprio laboratório, e por muitas vezes, o fantasma de Katie King conversando com Florence Cook. Como se explica que esses fatos não tenham sido admitidos, e que se tenha inventado, para explicá-los, toda a sorte de inépcias caluniosas? Certo é porque os homens — e os sábios, talvez, ainda mais que todos — têm medo de coisas novas.

Assim, quando Crookes lhes trouxe provas formidáveis, riram-se. E eu também, ah! Eu ri como os outros. Mas hoje, [penitencia-se Richet] depois de ter visto o que vi, reconheço, enfim, muito dificilmente, muito laboriosamente, que Crookes tinha razão [...]. (p.33-34)

O doutor Paul Gibier, diretor do Instituto Bacteriológico (Instituto Pasteur); ex-interno dos Hospitais de Paris; ex-assistente de Patologia Comparada do Museu Histórico Natural de Paris; membro da Academia de Ciências de Nova York e da Sociedade de Pesquisas de Londres e Cavaleiro da Legião de Honra da França, em seu livro “O Espiritismo (faquirismo ocidental)”, 5ª edição FEB, pág. 158, pronunciando-se sobre o assombroso trabalho de Crookes, escreveu:

[...] Até aqui, vimos escritores, poetas e filósofos, sem autoridade em matéria científica, opinando em favor dos fenômenos espiritualistas: isso, como se diz, não traz conseqüências. Seja, mas eis que um fato grave se produziu: um dos primeiros sábios do mundo, um experimentador, cujas obras suportam sem desvantagem comparação com as de Dumas, Wurtz, Berthelot, Frémy, pronunciou-se de modo mais afirmativo, baseado em provas experimentais em apoio dessas coisas tenebrosas que se supunham sepultadas na noite da Idade Média. Que devemos concluir? Por que ousou dar como certos os fatos [...] será forçoso que o Sr. Crookes seja um louco ou um impostor?

[...] Será acaso um impostor que tenha querido zombar do público? Mas, com que interesse? [...] Pelo contrário, não ignorava que qualquer fraude — se fraude tivesse havido — seria prontamente descoberta, então seria a vergonha, seria a ruína, seria o desastre, o desabamento de uma vida honrosa de homem honesto e de sábio. [...] No fim de uma vida tão bem preenchida, tornada gloriosa por tantas descobertas, uma só das quais bastaria para imortalizar um homem, ele desceria de seu pedestal para revolver-se miseravelmente na lama? [...] Não, não seria possível!

Como se vê, Crookes não é um homem comum, capaz de se ver liquidado na voragem do tempo ou obscurecido pela insensatez de todos os tempos. O seu exemplo e a sua obra imortal são um farol, uma página aberta à civilização, descortinando uma realidade, um espetáculo da grandeza divina.

Enquanto o homem não houver comprometido as conquistas vivas civilização, a memória desse sábio, desse benfeitor da humanidade será lembrada como um dos propulsores do progresso.

Não obstante, quando anunciou, depois de anos de observações, que fora vencido pelas evidências dos fatos, a Real Sociedade de Ciências de Londres, de que fora presidente, se voltou contra ele, e o secretário dessa instituição, Sr. Stokes (protótipo da mentalidade retrógrada da época), negou-se a aceitar o convite, que lhe fez Crookes, para presenciar os fatos, pois era daqueles piores cegos, que mesmo que visse não acreditaria. A publicação dos trabalhos de Crookes, em 1874, produziu tal reação que, por pouco, a insensatez não o eliminou da referida Sociedade, não fosse à autoridade do sábio e a necessidade de justificarem a medida, demonstrando estarem erradas as suas categóricas declarações quanto à realidade das materializações do espírito Katie King, testemunhados por vultos eminentes do cenário científico da época.

A verdade, porém, não deixará de ser verdade, por força alguma, muito menos pela esdrúxula negação dos que nada entendem, ou não querem entender, ou desaparelhados de recursos interiores para a rota de elevação.

 

                                                                 Ney da Silva Pinheiro

 

Artigo extraído da Revista “Reformador”, do mês de setembro de 2007 — Ano 125 — nº. 2.142, mensário religioso, editado pela FEB — Federação Espírita Brasileira.

(*) Fatos Espíritas, Willian Crookes. Tradução de Oscar d’Argonnel, Prefácio, Ed. FEB.

(**)Ciência Metapsíquica dos fatos à doutrina, de Carlos Imbassahy, edições Mundo Espírita 1949, p. 15 a 40):