segunda-feira, 27 de abril de 2009

"O Espírito sopra onde quer..."


“O Espírito sopra onde quer...” (João, cap. 3 v.8).

1ª Parte

 

 

“Aquele que deseja transmitir uma idéia, terá que traduzi-la de alguma forma, segundo o processo que tiver à sua disposição. Isso porque não pensamos em palavras e sim em imagens ou impressões fugidias, que passam pelo nosso consciente como “flashes” velozes que precisamos agarrar às pressas para que não se percam. O primeiro trabalho é, pois converter pensamentos, idéias, sensações e impressões em um sistema de códigos, sinais ou imagens sensoriais que sejam comuns a uma grande quantidade de gente.”.

“Com isso chegamos a um terceiro componente do processo de comunicação, que é a interpretação por parte daquele que a recebe. È evidente, portanto, que a mensagem não é recebida na sua forma original, tal como foi concebida na mente daquele que a enviou, e sim já convertida num dos meios usuais empregados para torná-la comum, ou seja, para comunicá-la. Isso quer dizer que ela passou por um processo de codificação, ao ser transformada em sinais ou símbolos de idéias que surgem no plano do nosso entendimento como representações das próprias idéias. É que na fase atual da nossa evolução espiritual ainda não podemos transmitir o nosso pensamento na sua forma original, com a dispensa dos símbolos criados para comunicá-lo. Cabe, assim, àquele que recebe a mensagem, decodificá-la para convertê-la à sua forma original e ser então absorvida como pensamento puro.”

(Extraído do artigo “Técnica da Comunicação Espírita”, de Hermínio C. Miranda, “Reformador” de março de 1971, pp. 51 a 53. Os grifos do parágrafo final são do autor do presente trabalho).

 

 

Em espiritismo não há professores. Somos apenas estudiosos das verdades reveladas. Livremente, pesquisamos. Socorremo-nos das lições dos instrutores do mundo invisível que incessantemente ampliam, completam e elucidam a doutrina recebida do Espírito da Verdade e magistralmente codificada por Allan Kardec.

E, não sendo mais que aprendizes, não ensinamos, Limitamo-nos a estudar, e fazemô-lo incessantemente. E aquilo que aprendemos, ou pensamos estar aprendendo, procuramos transmitir, divulgar, para eventual aproveitamento por parte de outros estudiosos interessados. Com esse escopo, fazemos convergir para temas que pareçam pouco claros farto material de pesquisa, esparso em inúmeras obras que nem todos leram, ou que já esqueceram. “Se duas ou três pessoas se reunirem em meu nome, disse Jesus, eu entre elas estarei.”

Dessa confraternização, no estudo sério, o aproveitamento de cada um estará na razão direta do interesse que realmente tenha em instruir-se. E é por isso que, sem desprezar o gentio, buscamos antes — é pelo menos a nossa sincera intenção — “as ovelhas perdidas da casa de Israel”, como determinou o Divino Mestre. Ou seja: queremos estudar com os que, como nós, querem de fato aprender. “Na época de Jesus, e em conseqüência das idéias acanhadas e materiais então em curso, tudo se circunscrevia e localizava. A casa de Israel era um pequeno povo; os Gentios eram outros pequenos povos circunvizinhos. Hoje, as idéias se universalizam e espiritualizam. A luz nova não constitui privilégio de nenhuma nação; para ela não existem barreiras, tem o seu foco em toda a parte e todos os homens são irmãos. Mas, também, os Gentios já não são um povo, são apenas uma opinião com que se topa em toda parte e da qual a verdade triunfa pouca a pouco, como do Paganismo triunfou o Cristianismo. Já não são combatidos com armas de guerra, mas com a força da idéia.” (A Candeia Debaixo do Alqueire, cap. XXIV. “O Evangelho segundo o Espiritismo” de Allan Kardec, 57ª ed. FEB).

Aprendemos, com a Codificação Kardequiana, que tudo deve ser examinado, comparado meditado. E que a opção, entre o que parece certo e o que se nos afigura errado, é de cada um de nós. Portanto, o uso da liberdade de exame, no Espiritismo, é prerrogativa consciencial: além de ser um direito conquistado por longa evolução, é um dever imposto pelo grau de compreensão atingido pelo espírito.

Respeitando os doutores do mundo, nas respectivas áreas de sua indiscutível competência, mas deles divergindo quanto à presunção de capacitação infalível para, sob rótulos cientificistas, opinarem decisivamente sobre Espiritismo, entre outras coisas escreveu Allan Kardec: “... será preciso a posse de um diploma oficial para se ter bom senso? Dar-se-á que fora das cátedras acadêmicas só se encontrem tolos e imbecis?” (Introdução ao estudo da Doutrina Espírita, em “O Livro dos Espíritos”, 32. ª ed. FEB).

Todavia, disso não se depreenda que o Espiritismo possa ser compreendido ao ritmo de um “curso rápido”, em alguns dias ou em poucas semanas. Na mesma “Introdução”, em “O Livro dos Espíritos”, o insigne Codificador nos esclarece: “Anos são precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para se chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir-se a ciência do infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todos as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?”

Resumindo: parece fora de dúvida que, como espíritas, devemos estudar uns com os outros, reunindo ensinamentos esparsos para analisá-los livre e conscientemente, por direito e por dever, com bom senso, sem necessidade de certificados de presença ou de aproveitamento em quaisquer “aulas” ou “escolas” de inspiração escolástica ou de orientação mundana, escolhendo os próprios caminhos, informando-nos sobre quanto nos vem, por “acréscimo de misericórdia”, com o fim de nos instruir, dos Orientadores da Espiritualidade, e que tudo devemos “descodificar para reconverter à forma original e então absorver”, sem medo, sem preconceito, sem dogma, sempre, sabendo que o estudo da Doutrina Espírita pode ser iniciado, mas jamais concluído.

 

                                                                      Francisco Thiesen

 

(Extraído da revista Reformador, mensário religioso de espiritismo cristão — Ano 91 nº. 6, mês de junho de 1973, editado pela FEB – Federação Espírita Brasileira).

 

Um comentário:

mat disse...

O autor, foi genial, em lembrar, o que muitos espíritas esquecem, de que no Espíritismo, não há doutores da lei, que somos todos estudiosos, nos esforçando, para captarmos, con todas as nossas limitações, as verdades do Alto.