O Sonho do Senador
O Senador romano Públio Lentulus Cornelius, descendente da famosa “gens Cornelia”, era bisneto do cônsul Públio Lentulus Sura, déspota cruel que tomara parte na conspiração de Catilina e que, prevalecendo-se de sua autoridade, fizera as mais tremendas vinganças contra seus inimigos políticos. Muitos adversários tiveram os olhos vazados com ferro em brasa, nas masmorras.
Falhada a conjuração, que foi em tempo denunciada por Cícero ao senado, no ano
Seu bisneto, Públio Lentulus Cornelius, orgulhoso senador romano, contemporâneo de Jesus, cuja autobiografia é o tema do romance “Há dois mil anos...”, de Emmanuel, no ano 31 de nossa era teve um sonho nítido e terrível que lhe revelou o tenebroso passado e lhe deu conhecimento da lei das encarnações sucessivas. Sonhou que ele mesmo era aquele antepassado cruel que vazava os olhos dos inimigos e que mais tarde fora estrangulado; depois de terrível sofrimento no mundo espiritual, fora julgado por um tribunal sábio e misericordioso que lhe dera por sentença voltar à terra, em encarnação expiatória, mas com a possibilidade de conhecer a Verdade, pois viveria ao mesmo tempo que o Divino Mestre, de quem receberia os grandes ensinos e os exemplos. Se tivesse coragem de romper com o orgulho e os preconceitos de nobreza e autoridade, suavizaria de muito suas expiações e progrediria rapidamente.
Profundamente impressionado com este sonho, deu minuciosa busca nos arquivos da família e encontrou numerosos manuscritos do seu antepassado, cuja escrita era muito semelhante à sua. Igualmente os traços fisionômicos eram os mesmos de um retrato em cera do bisavô.
Todos os fatos se encaminharam para que ele viesse a encontrar o Divino Mestre que lhe curou de lepra uma filhinha, e ouvisse diretamente dos lábios de Jesus a grande lição de que necessitava mudar de rumo; mas o orgulho o cegava: negou a realidade da cura pelo Cristo e continuou sua vida em busca das glórias do mundo, desprezando as realidades espirituais.
Destruiu sua própria felicidade no lar dando créditos a calunias contra sua santa esposa, modelo de virtudes, e recusando-se a ouvir dos lábios dela qualquer justificativa. Só trinta anos mais tarde veio conhecer a verdade e compreender o crime que cometera contra a esposa; quis reconciliar-se com ela, mas demasiado tarde, porque ela havia sido lançada às feras no circo, com outros cristãos, algumas horas antes do momento que ele a si mesmo marcara para confessar-lhe seu erro.
Desprezou todos os meios que a providência colocara em suas mãos para suavizar-lhe as provas, e se projetou, pela cegueira do orgulho, nos mais terríveis sofrimentos de uma encarnação longa e pouco aproveitada.
Dois mil anos mais tarde nos vêm ele mesmo, já trabalhado pela dor e convertido ao bem, com o pseudônimo de Emmanuel, tão caro a todos nós, contar-nos sua história para edificação nossa.
“Há dois mil anos...” e “Cinqüenta anos depois” são dois volumes que a misericórdia divina lhe permitiu entregar-nos para demonstrar os abismos em que nos pode projetar o orgulho de casta e de família.
A forma literária desses livros é a de romances encantadores, que são lidos até pelos mais descrentes, mas merecem ser estudados e meditados pacientemente por nós que temos a fortuna de crer na Terceira Revelação e por isto mesmo com maiores responsabilidades.
Ismael Gomes Braga
Extraído da Revista “Reformador”, mensário religioso de espiritismo cristão, editado pela Federação Espírita Brasileira do mês de fevereiro de 1951.
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